Marcelo Costa de Andrade, conhecido como Vampiro de Niterói é um assassino em série, que tem passado o tempo no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Henrique Roxo, no Rio de Janeiro, trabalhando e escrevendo cartas. Ele atua na limpeza do chão da casa penal há mais de 10 anos. Ele se comunica com pessoas foram do hospital nas horas vagas e até com ex-funcionários.
A até então estudante de Psicologia Solange Diniz de Carvalho, com 43 anos em 2008, descobriu que o Vampiro de Niterói cometeu os crimes próximo de sua casa. Ela estava interessada em ter contato profissional com o assassino e pediu para estagiar no hospital psiquiátrico no qual ele estava internado. Isso foi quando ela se formou e seguiu atuando na instituição.
Um dia, Marcelo estava limpando o primeiro pavimento do hospital quando viu Solange mais à frente. Ele estava usando uma camiseta de malha azul-marinho e bermuda jeans, foi até ela, enxugou a mão direita na roupa e se apresentou, ao mesmo tempo em que cumprimentava a psicóloga com um aperto de mão.
O encontro casual foi o suficiente para que Marcelo se apaixonasse e passasse a enviar cartas frequentes à mulher. O blog teve acesso a três delas, escritas de próprio punho por ele em 2008, em grafia quase sempre difícil de decifrar. Então, Solange teve que ditá-las para que fossem reproduzidas. A primeira carta, divulgada pelo jornal O Globo, foi entregue em mãos de maneira camuflada. Então, o Vampiro de Niterói fala da solidão e de como busca redenção por meio da religiosidade.
Confira a carta 1:
“Minha querida amiga Solange. Eu sou Marcelo Costa de Andrade e tenho 41 anos. Queria pedir para você escutar a programação evangélica do Pastor David Miranda, da Igreja Pentecostal Deus é Amor na rádio AM, bem perto da CBN. A programação é muito abençoada e inspiradora, e a Bíblia Sagrada é fundamental para todos nós que buscamos orientação espiritual.
Além de ouvir a programação da igreja, recomendo que você frequente as reuniões da Igreja Pentecostal Deus é Amor para ser abençoada. A igreja tem sido um lugar onde muitas bênçãos acontecem, e acredito que você também sentirá essa presença divina.
Solange, gostaria muito que você escrevesse uma carta para mim. Ficarei muito contente em receber sua correspondência. Por favor, me mande o seu endereço completo com o CEP, para que eu possa responder e mantermos contato. Fiquei muito feliz em conhecer você e receber seus bons conselhos. Acredito que sua participação nas reuniões da igreja será muito boa para sua vida espiritual.
Depois de frequentar a igreja, você vai concluir que não precisa ter medo ou vergonha de mim, pois nossa ligação é baseada na fé e no amor de Deus. Quero que saiba que você está em minhas orações. Continuo fazendo correntes de oração para que eu possa encontrar paz e ser abençoado aqui onde estou. Espero conseguir minha liberdade em breve, pois, no momento, estou preso e não posso participar pessoalmente das atividades da igreja.
Com muita fé e esperança, aguardo ansiosamente sua resposta.
Marcelo Costa de Andrade”
O início dos crimes
De acordo com o que consta nos autos do processo de execução penal do Vampiro de Niterói, foi depois do culto de um pastor evangélico que iniciou o desejo de matar. Segundo seu depoimento, o líder religioso teria dito que, quando a criança morre, ela vai para o céu diretamente, pois sua alma ainda é pura. Depois dos 14 anos, porém, a pessoa poderia ir para o inferno já que estaria comprometida com pecados mundanos. Marcelo entendeu que deveria matar os meninos da rua o mais rápido possível para que eles escapassem do inimigo.
Depois, o assassino confessaria a morte de 13 crianças, todas com idade entre 6 e 13 anos. As mortes ocorreram entre abril e dezembro de 1991, em Niterói, cidade vizinha ao Rio de Janeiro. Ele relatou, já preso, sem qualquer remorso os detalhes dos infanticídios, como beber o sangue das vítimas. A partir disso que nasceu o apelido de Vampiro de Niterói.
Solange Diniz de Carvalho afirmou ter se preocupado e ao mesmo tempo ficado fascinada quando recebeu a carta do assassino, já que gostaria de estudar o Vampiro para entender melhor como a sua mente funcionava. Contudo, por questões éticas, ela não respondeu à primeira correspondência. Também não comunicou aos superiores a respeito do contato. “Ele apertou a minha mão com a maior gentileza, admiração e simpatia. Como se fosse uma pessoa comum. Ficou claro que ele estava me admirando”.
Marcelo estava no pátio tomando sol cercado por grades dois dias depois, já que era considerado um preso de alta periculosidade. Porém, ele se aproveitou de uma distração do policial penal, passou por um portão e foi ao encontro da psicóloga. O Vampiro de Niterói ficou irritado e perguntou o motivo de sua carta não ter sido respondida. Apreensiva, ela respondeu que não poderia se corresponder com ele. Depois de uma semana, o preso enviou mais uma carta para a mulher. Ele expressava seus sentimentos, desejo sexual e fantasias com ela.
Confira a carta 2:
“Querida Solange,
Que Deus altíssimo esteja contigo. Minha querida amiga. Primeiramente, beijinhos maravilhosos na sua linda boca e no seu lindo rostinho. Se estivesse em liberdade, eu levaria você para almoçar em um restaurante, como uma churrascaria. Lá, íamos conversar uma conversa sadia, como de mãe para filho.
Solange, quero lhe dizer que você é uma moça bonita, simpática e legal, e eu gostei muito de você. Se eu pudesse, levaria você para tomar banho de piscina no clube Associação Cristã de Moços. Eu ia gostar muito de ver o seu lindo corpinho de biquíni e sutiã.
Eu e você, na liberdade. Se alguém fizesse mal a você, ia ter de fazer mal em mim também, pois eu sou de ficar grudado em você, como o menino que se esconde debaixo da saia da sua mãe. Solange, aqui eu faço masturbação. Toco no meu pênis até sair o esperma, já que eu não tenho mulher para fazer sexo.
Beijos na sua linda boca e escreva-me também.
P.S.: Não fale para ninguém sobre esse bilhete.
Com carinho,
Marcelo Costa de Andrade”
Preso depois de poupar o irmão
Ele cometeu seus crimes ao longo de meses sem ser importunado pela polícia. O Vampiro de Niterói trabalhava em Copacabana, na Zona Sul do Rio, e morava em Itaboraí, a 60 quilômetros do local, percurso que fazia de ônibus. Durante o caminho, parava em Niterói, onde capturava, estuprava e violentava meninos, mantendo o short das vítimas como se fosse um souvenir.
O criminoso só foi preso porque teve a ideia de pegar dois irmãos, um de 6 e outro de 11 anos. Ele assassinou o mais novo, violentado sexualmente na frente do irmão, que acabou poupado e contou à mãe. Ela foi à delegacia, e os policiais foram ao trabalho de Marcelo, que foi preso e confessou todos os crimes.
Foram realizados exames por psiquiatras que atestaram que o Vampiro de Niterói tem transtorno antissocial análogo à psicopatia, além de um distúrbio mental que faz com que ele não tenha plena noção da gravidade dos atos cometidos. Então, ele foi considerado inimputável e escapou do Tribunal do Júri. Marcelo está encarcerado há mais de 30 anos. “Ele acabou condenado a uma prisão perpétua”, declarou seu advogado, Luiz Mantovani, ao canal do jornalista Beto Ribeiro no Youtube.
Na última carta que escreveu a Solange, ele detalha alguns dos assassinatos e faz um resumo da sua biografia e também tenta justificar seus crimes. Por fim, pressentindo que a psicóloga sairia do hospital psiquiátrico, pediu a ela para fazer uma carteirinha de visitante para encontrá-lo nos finais de semana no pátio da casa de custódia. Essa é a maior das correspondências escritas por ele e a única com data.
Confira a carta 3:
“Niterói, Rio de Janeiro, 13 de abril de 2008
Minha querida amiga Solange,
Eu, Marcelo Costa de Andrade, de 41 anos de idade, dou graças ao bom Deus que esteja tudo bem com você. Faço aniversário no dia 2 de janeiro. Quando eu tinha 10 anos, fiquei me prostituindo na Cinelândia, Central do Brasil e na Galeria Alasca, em Copacabana, até os meus 18 anos de idade. E eu ganhava um bom dinheiro assim. Aconteceu que eu cresci e comecei a gostar de garoto novo para sexo. Aconteceu também de eu ficar endemoniado e doido da cabeça. Então eu matei 13 garotos de 5 a 13 anos de idade em lugares desertos. Eu bebia o sangue dos meninos e estuprei eles. Isso em um ano. É por isso que estou há muitos anos preso.
Mas, dona Solange, mudando de assunto, nunca mate ninguém. Nem faça mal nenhum a ninguém para nunca ir presa. Falo isso para o seu próprio bem. Quero dizer que eu, Marcelo, gostei da senhora.
Você é uma moça bonita, simpática e legal. E eu gostaria sempre de lhe ver e conversar com você.
Vai chegar o dia que você não vai mais trabalhar aqui. E eu queria que, antes de isso acontecer, você conversasse com a minha assistente social, dona Delaine; e com a minha terapeuta, dona Margareth. Diga a elas que você quer tirar a carteirinha de visitante para vir me ver.
Vai chegar o dia que você não vai mais trabalhar aqui. E eu queria que, antes de isso acontecer, que você conversasse com a minha assistente social, dona Delaine; e com a minha terapeuta, dona Margareth. Diga a elas que você quer tirar a carteirinha de visitante para vir me visitar. É certo que a direção daqui vai achar ruim. Mas fala que você gostou de mim, que me achou legal e simpático, e que está decidida a me visitar.
Mas não fale para ninguém daqui que eu escrevi essa carta para você, nem para sua supervisora, para não acharem ruim para você e comigo. Esta carta é um segredo meu e seu. Só faça o pedido da carteirinha de visitante quando souber que vai ficar aqui por mais uma semana.
Então corra atrás para tirar a sua carteirinha de visitante. Sei que a minha assistente social e a dona Margareth vão achar ruim e vão tentar azarar a gente. Mas é como eu te falei. Diga a elas que você gostou de mim e está decidida a vir me visitar. Fale também com a subdiretora Áurea, e com o diretor Pascoto e o chefe de segurança. É claro, minha querida amiga Solange. Falando com eles você vai conseguir tirar a carteirinha de visitante, pois eles são mais simpáticos, compreensivos e mão aberta.
Dona Solange, eu quero lhe dizer que gostei muito de você e que te amo como amo minha mãe. Quero sempre te ver, mesmo depois que acabar o seu tempo de trabalho aqui. Vou deixar o endereço da casa da minha avó para você (aqui ele escreveu o endereço completo da avó). Pode escrever para esse endereço, que minha avó Alice me entrega a sua carta quando vier me visitar.
Você, minha querida amiga Solange, vindo me visitar já é uma bênção de Deus para nós dois. Espero que escreva uma carta para mim também, dizendo como está. A minha mãe e minha avó vêm me visitar de 15 dias em 15 dias.
Até logo, e que Deus abençoe nós dois.
Com carinho,
Marcelo Costa de Andrade”
A Secretaria estadual de Administração Penitenciária afirmou ao jornal O Globo que, “em respeito ao Art 41, do inciso XV, da Lei de Execuções Penais, permite a comunicação do detento com o meio exterior por meio de cartas”. O texto enviado pela pasta prossegue informando que, no entanto, não é permitido “o envio de correspondências com conteúdos inadequados, tais como ofensas, ameaças, assédios ou qualquer outro tipo de comunicação criminosa”.
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