‘Pode dificultar estabelecer relacionamentos afetivos’, diz psicólogo sobre abuso sofrido por Anitta

O Glow News conversou com o psicólogo Alexander Bez, que analisou o trauma sofrido por Anitta, o qual deixará marcas para sempre na vida da cantora. Leia abaixo na íntegra!

“O trauma é sempre uma questão muito complicada, especialmente o trauma sexual. Primeiro, é importante ressaltar que, infelizmente, em casos assim, a situação é sempre delicada. Uma condição que agrava a situação é a idade da vítima. No caso de uma adolescente de 14 anos, mesmo sendo considerada jovem, ela provavelmente foi vítima de pedofilia, já que, quando há uma relação sexual violenta ou abusiva com alguém menor de 18 anos, mesmo que o parceiro tenha, por exemplo, 19 anos, ainda é considerada pedofilia.

Por mais difícil que seja dizer isso, o impacto psicológico pode ser menos intenso em uma menina de 14 anos do que em uma criança mais jovem, pois a personalidade de uma criança começa a se formar por volta dos 9 ou 10 anos. Isso não quer dizer que seja “menos grave” em termos de gravidade, mas, em termos de desenvolvimento psicológico, o trauma pode ser processado de uma maneira ligeiramente diferente. Ainda assim, não há idade “segura” para esse tipo de violência; é sempre devastador.

O trauma sexual é um dos mais severos, pois fragmenta a sexualidade da pessoa. Em muitos casos, as vítimas podem desenvolver distorções em relação à sua vida sexual futura. Para as mulheres, isso pode resultar em dificuldades para estabelecer relacionamentos afetivos saudáveis e, muitas vezes, elas acabam desenvolvendo uma desconfiança constante dos homens, o que é compreensível, dado o que vivenciaram.

Esse tipo de trauma pode levar a um ciclo de repetição, especialmente em vítimas do sexo masculino, que têm uma probabilidade maior de se tornarem abusadores no futuro. Já as mulheres podem desenvolver um comportamento sexual descontrolado ou, ao contrário, sentir repulsa por qualquer tipo de relação íntima. Isso é consequência direta da fragmentação da sexualidade causada pelo abuso. Além disso, podem surgir distúrbios de estresse pós-traumático ou até transtornos obsessivo-compulsivos ligados à sexualidade.

Quando a vítima relata sentimentos de nojo e culpa, esses sentimentos são totalmente legítimos e frequentes em 100% dos casos de vítimas femininas. Esses são os primeiros sinais de que o trauma precisa ser tratado. A recuperação começa por meio de terapias voltadas para o resgate da autoestima e, principalmente, pela compreensão de que a vítima não tem culpa do que aconteceu. Este é um dos maiores desafios, já que, muitas vezes, as vítimas internalizam a culpa pela violência sofrida.

A psicoterapia precisa focar na aceitação de que a pessoa não teve qualquer responsabilidade pelo ocorrido. Ao mesmo tempo, é necessário abordar os sentimentos de nojo e culpa para ajudar a vítima a entender que esses sentimentos são reações naturais diante da violência sofrida.

A reestruturação psicológica e emocional é um processo longo, que envolve diversas terapias para tratar a ansiedade, a perda de confiança, o medo e outros efeitos causados pela violência. Em muitos casos, é preciso também tratar com medicamentos, como ansiolíticos e antidepressivos, dependendo dos sintomas apresentados.

Por fim, é importante lembrar que, embora o trauma sexual seja profundamente doloroso, ele pode ser superado com o tempo e com o tratamento adequado. A combinação de terapia e, em alguns casos, medicação, é crucial para a remissão completa dos sintomas, mas é um processo que demanda paciência e persistência.”