Diego Fernando Marques Costa recebeu o direito à sua primeira saída temporária após nove anos preso em Tremembé. O marceneiro deixou a penitenciária na última terça-feira, 11, para passar sete dias com a família, no benefício conhecido como “saidinha de Santo Antônio”.
Ao atravessar os portões da cadeia, o primeiro rosto que ele viu foi o da vendedora Mayara Batista, sua nova namorada. De acordo com o jornal O Globo, os dois se abraçaram e se beijaram por mais de uma hora. Diego e Mayara se conheceram por cartas. Um colega de cela já conhecia a moça e achou que os dois foram feitos um para o outro. Então, o marceneiro escreveu a ela, que respondeu de imediato, dando início a uma troca de correspondências que durou quase um ano.
O namoro foi concretizado quando Mayara enviou uma foto para Diego, que devolveu com outra imagem. Ao ver o pretendente, Mayara se apaixonou de cara. “Foi amor à primeira vista. Ele é o tipo de homem com quem sempre sonhei”, revelou a Ullisses Campbell, do jornal O Globo, na porta da penitenciária. Ao ouvir a declaração, o marceneiro a beijou.
Nas penitenciárias de São Paulo, é comum que presos, tanto homens quanto mulheres, troquem cartas com pessoas que estão em liberdade. Toda correspondência que entra e sai do sistema carcerário passa por um filtro da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), que mantém funcionários nas unidades com a função de abrir os envelopes e ler tudo o que é escrito. Se houver conteúdo erótico, seja em texto ou imagem, ou qualquer outra coisa que não seja papel, a mensagem é descartada. Também são riscados trechos que julguem inapropriados, como palavrões, xingamentos e frases que possam conter códigos para execução de novos crimes, que é a principal função dessa triagem.
A “saidinha de Santo Antônio” coincidiu com o Dia dos Namorados, então o casal aproveitou a primeira semana juntos para trocar alianças de compromisso. “Vamos nos casar em breve”, revelou o marceneiro. A oficialização do relacionamento é essencial para a vida deles, já que a SAP só permite visitas íntimas a casais que tenham, pelo menos, um atestado de união estável lavrado em cartório.
Os dois também trocaram presentes no Dia dos Namorados. Enquanto Diego deu a ela uma blusa preta, a mulher o presenteou com um moletom, já que nas cadeias de Tremembé faz muito frio. “Nunca imaginei que encontraria a mulher da minha vida estando preso”, afirmou ele.
O crime cometido por Diego que o fez parar na prisão
O marceneiro tem outras pendências para resolver fora da penitenciária. Uma mulher diz que engravidou dele pouco antes da sua prisão, em 2015. Diego não tem dúvidas, pois passou uma noite com ela, mas pediu um exame de DNA para ter 100% de certeza de que a criança, atualmente com 9 anos, é sua filha. Ele voltou para a prisão nesta segunda-feira, 17.
Ele afirma que não cometeu o crime do qual é acusado. Diego declara que, embora trabalhasse como marceneiro, também fazia um extra comprando e vendendo carros. Uma vez, fez um negócio com Victor Isidoro, de 30 anos, trocando um Gol 2011 por um Chevette 1996. Contudo, quando foi checar a documentação do Gol que estava em seu poder, ele descobriu multas acumuladas que somavam R$ 4 mil.
Na noite de 11 de março de 2015, de acordo conta, Diego foi ao encontro de uma namorada numa rua sem saída na cidade de Cruzeiro, interior de São Paulo, onde morava. Ele deu de cara com Victor, que pediu sua ajuda, no meio do caminho. Ele estava com um Chevrolet Cruze novo, mas não conseguia tirá-lo da garagem porque não sabia dirigir veículos de câmbio automático.
O marceneiro revela que decidiu ajudar, mas foi surpreendido pela presença do empresário Sérgio Valério Bastos, de 47 anos, amarrado e amordaçado na sala. A vítima era dona do carro automático foi sequestrada por ter mantido, de acordo com Victor, um romance com a sua companheira. Diego conta que “foi coagido” pelo homem a participar das próximas ações, que passam, a partir deste momento, a ser relatadas pelo Ministério Público.
A promotoria sustenta que Victor, Diego e Júlia Alves Marcelino, de 19 anos, namorada de Victor, se uniram para sequestrar o empresário. Victor colocou Sérgio no porta-malas do Cruze e seguiu com a moça até as proximidades da Via Dutra (BR-116), ainda em Cruzeiro. Diego seguiu atrás em seu Gol. No trajeto, a vítima conseguiu acionar uma trava e abrir o porta-malas do carro em movimento, mesmo estando com os pés e as mãos amarradas. Victor parou e fechou o porta-malas. Na segunda vez que Sérgio acionou a trava, Diego foi quem desceu do carro e fechou, mas ele nega isso. “Não vi ninguém no porta-malas”, afirma.
A vítima abriu o porta-malas pela terceira e última vez. Irritado, Victor pegou uma arma calibre 38 e disparou seis tiros no rosto do empresário. Presos, os três foram condenados por latrocínio, pois eles pegaram os pertences da vítima, inclusive saques na conta bancária. Victor pegou 28 anos de prisão; Diego, 27; e Júlia, 23.
Diego descobriu que reabrir seu processo para reexaminá-lo juridicamente custaria cerca de R$ 50 mil com um advogado. Então, por ser um valor que não conseguiria pagar, ele decidiu se apegar à religiosidade. “Tudo o que eu passei na cadeia faz parte dos planos de Deus. Vou cumprir minha pena até o fim e ser feliz com a mulher que escolhi para ficar o resto da vida ao meu lado”.
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