Francisco de Assis Pereira, de 56 anos, o Maníaco do Parque, foi condenado a 285 anos de prisão por ter matado sete mulheres e estuprado mais de dez vítimas que sobreviveram. O criminoso está preso desde 1998, mas nem assim parou de atacar, avançando contra mulheres em pelo menos duas ocasiões.
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Segundo informações do jornalista Ullisses Campbell, do jornal O Globo, o primeiro caso começou em novembro de 2002, na Penitenciária de Itaí (SP), quando Francisco iniciou um relacionamento com Jussara Gomes Glashester, de 62 anos, após receber uma carta de amor dela. O vínculo entre os dois cresceu e se fortaleceu ao ponto de Jussara ajudar financeiramente a família dele.
Assim, em 28 de maio de 2003, ela formalizou uma união estável com o detento para tentar obter visitas íntimas. No documento, a justificativa da união era de que “os contratantes são pessoas que se identificam, se conhecem há longa data e possuem compatibilidade de gênios, afinidades, interesses comuns e sentimentos amorosos”.
Jussara entrou com um pedido na Justiça para conseguir as visitas íntimas, mas o juiz determinou que uma psicóloga conversasse com ambos separadamente antes de tomar uma decisão. A psicóloga, porém, emitiu parecer contrário após as conversas, alegando que a relação do casal era baseada em uma “forte carga afetiva” e que Francisco mantinha o namoro pautado por um “discurso religioso”.
“A referida senhora se recusou a falar sobre o passado de Francisco, afirmando que o que realmente importa, no momento, é o presente e o futuro. Portanto, proponho a continuidade das visitas no parlatório”, sugeriu a psicóloga Marinha Sebastiana Pinheiro sobre as visitas.
O relacionamento chegou ao fim em outubro de 2003, devido à impossibilidade dos dois manterem relações sexuais. Na despedida, Francisco pediu para dar um beijo de despedida na então namorada. Mas quando Jussara encostou o rosto na grade do parlatório, ele tentou morder o pescoço dela. A mulher saiu correndo da penitenciária e ainda comentou: “Ele é violento, né?”, ao encontrar um policial penal na saída.
O segundo caso ocorreu dois anos depois e foi relatado pela própria vítima, a psiquiatra Hilda Morana, de 69 anos, em sua participação no podcast “Surtadamente” na semana passada. Ela contou que sofreu uma esganadura do Maníaco do Parque também dentro da Penitenciária de Itaí, onde ele ficou detido de 2001 a 2006, numa galeria onde só havia presos condenados por crimes sexuais contra mulheres.
Hilda Morana conseguiu uma entrevista com o Maníaco do Parque para sua tese de doutorado na Universidade de São Paulo (USP) sobre a mente dos psicopatas e sua capacidade de recuperação. Francisco foi um dos 50 presos com esse perfil que foram entrevistados por ela em São Paulo.
Segundo a psiquiatra, a direção da penitenciária de Itaí disponibilizou uma sala para que ela conversasse com os detentos, mas a orientou a deixar a porta aberta para que um policial os observasse de longe. Logo no início da entrevista, conforme seu relato, Francisco começou a reclamar do barulho e pediu para a médica fechar a porta.
Mesmo com o alerta do agente penal sobre o perigo de ficar a sós com o Maníaco, a porta foi fechada. Na mesma hora, o assassino serial pulou em seu pescoço, apertando a garganta da médica com as duas mãos. “E se eu mato a senhora agora?”, ameaçou. Segundo o que a médica contou, ele não tinha a verdadeira intenção de matá-la e ela conseguiu tirar as mãos do homem de seu pescoço. “Ele não estava disposto a me matar. Queria só chamar a atenção”, afirmou.
Hilda Morana entrevistou o paciente 42 de sua tese de doutorado outras cinco vezes depois do episódio. Sobre o assassino, ela escreveu: “Apresenta um transtorno persistente de personalidade, com elevadíssima periculosidade. Este indivíduo é mais perigoso que a média e deve ser contido, pois, devido à falta de controle interno, é necessário um controle externo rigoroso. Do ponto de vista médico-legal, é considerado semi-imputável e, geralmente, não responde ao tratamento. Não sendo um caso passível de tratamento curativo específico, conforme estabelece o Artigo 98 do Código Penal, não se recomenda a aplicação de medida de segurança. No entanto, é certo que, mesmo após trinta anos de cárcere, o indivíduo continuará a representar uma ameaça”.
Em um trecho da entrevista do Maníaco do Parque com Hilda, há o seguinte depoimento: “Não estou arrependido. Se eu disser ‘estou arrependido do que fiz’, seria mentira; não estou arrependido… É como se houvesse um vazio dentro de mim. Sinto-me seguro e, ao mesmo tempo, sei que destruí a minha vida. Eu era trabalhador… nunca roubei. Depois, eu voltava para casa como se nada daquilo tivesse acontecido, mas, quando ocorria, eu chorava muito. Eu senti arrependimento, mas, ao mesmo tempo, era um arrependimento falso, pois, se fosse verdadeiro, eu não teria repetido duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito vezes”.
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