Leandro Lehart, do grupo de pagode Art Popular, foi condenado mais uma vez em 2ª instância pelo estupro de uma mulher em São Paulo. O cantor se pronunciou sobre a nova decisão da Justiça em relação ao caso. Em mensagem publicada no Instagram, o compositor afirmou que “permanece com sua essência intacta”, ainda que a denúncia tenha feito ele sofrer muito nos últimos anos.
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Embora tenha sido derrotado no recurso na 2ª instância, Lehart deu a entender que vai apelar da sentença dos desembargadores, com base no voto do relator do caso no Tribunal de Justiça (TJ-SP), que o inocentou do crime cometido em 2019.
O recurso da defesa dele contra a condenação em 1ª instância foi apreciado em 11 de setembro deste ano pela 13ª Câmara de Direito Criminal do TJ-SP. Ainda que o relator tenha escolhido acolher os argumentos de Leandro, os outros desembargadores do órgão não concordaram e permaneceram com a condenação inicial dele a nove anos, sete meses e seis dias de prisão, em regime fechado, pelas acusações de estupro e cárcere privado da mulher.
A prisão do cantor não foi decretada, mas ele poderá ser preso quando o caso for considerado trânsito em julgado, que é quando não puder mais recorrer das decisões. “Hoje quero me pronunciar a respeito do processo que venho enfrentando já há algum tempo. Tive uma vitória muito importante no julgamento há algumas semanas atrás. O juiz-relator, que estudou o processo de maneira detalhada e profunda, me inocentou das acusações infundadas que venho sofrendo. É um voto extremamente corajoso e simbólico”, declarou o pagodeiro.
“E [quero] reiterar que eu confio na Justiça do meu país e na continuidade da restauração da verdade que já começou com o voto do relator. Agora é seguir batalhando pelo que eu acredito, sabendo que cada dia é um passo para essa reconstrução. Permaneço com minha essência intacta, interagindo e me emocionando com meu povo, entendendo que toda essa experiência me tornou uma pessoa ainda melhor. Para você que está me ouvindo aí”.
Ele também disse que “não deu a devida importância em alguns momentos” ao processo e que poderiam provar a inocência de Leandro, mas que agora quer se dedicar ao caso. “Quero agradecer aos meus advogados por trabalharem incansavelmente, pessoas incríveis, guardiões da verdade e da Justiça. Confesso que não dei a devida importância em alguns momentos. Que, se fossem dados, revelariam a minha inocência. Sofri muito, mas aprendi. Quero agradecer o apoio de todo mundo, cada abraço, cada beijo, cada carinho. Vocês têm todo o meu amor”, afirmou o compositor.
O nome verdadeiro dele é Paulo Leandro Fernandes Soares. Ele foi condenado em 1ª instância pelo crime em setembro de 2022, mas recorreu da sentença da 17ª Vara Criminal de São Paulo e teve o recurso negado pelos desembargadores em setembro.
“Em nenhum momento o réu diz, nos diálogos com a vítima, algo como: ‘pensei que você estava gostando, ou: ‘tinha entendido que você queria’. Pelo contrário, ele deixa claro que fez o que ela evidentemente não queria. Também não cola o argumento de que teria falado coisas que ela queria ouvir para evitar-lhe o suicídio. Não é o que extraímos dos diálogos, afinal ele fala em confissão, em autocrítica, em assumir o erro, em pedir perdão, em ter vergonha do que havia feito, em assumir a responsabilidade”, afirma o texto do acórdão do julgamento que aconteceu em 11 de setembro deste ano.
Uma médica psiquiatra que atendeu a vítima por três vezes disse que não teve dúvida em diagnosticá-la com estresse pós-traumático. O caso foi denunciado pelo g1 e pelo Fantástico, da TV Globo. Rita de Cássia Corrêa, a vítima, disse que teve relações sexuais com Leandro Lehart, e ele defecou sem sua boca à força.
A mulher fez tratamento psicológico depois de ter conhecido o cantor pela internet e sofrido abuso sexual na casa dele. Eles se conheceram pelas redes sociais e passaram a marcar encontros. Na ocasião, a vítima trabalhava no sistema público de transporte de São Paulo e saiu do emprego por ter se abalado e se sentindo culpada com a situação. A mulher teve diagnóstico de estresse pós-traumático e chegou a tentar o suicídio.
No dia do caso, de acordo com o g1, o cantor deixou a vítima sair “apenas depois que ela se acalmasse”. Já que a vítima ficou sem renda e estava enfrentando problemas financeiros, Lehart chegou a encaminhar a ela três cestas básicas. O caso foi registrado meses depois que ela foi atrás de uma rede de apoio e começou a receber ajuda psicológica e jurídica. Foram entregues, à polícia e à Justiça, conversas com o pagodeiro com supostas confissões.
A declaração das defesas
A advogada da mulher, Gabriela Manssur, disse que a confirmação da condenação pelo Tribunal de Justiça “demonstra a credibilidade da palavra da vítima”. “Bem como comprova que, a partir do momento em que a vítima diz não, qualquer conduta a partir dessa recusa, é estupro! O recado é para que as mulheres confiem na Justiça, pois agora temos uma condenação a uma pena de 9 anos e 7 meses pelos crimes de estupro e cárcere privado, a ser cumprida em regime fechado, confirmada por um Tribunal Superior, sobre fatos que denotaram subjugação e crueldade contra uma mulher. Aliás, ele deveria estar preso”.
Davi Tangerino é o responsável pela defesa do cantor. “Em que pese voto do Relator absolvendo Leandro Lehart, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por maioria, manteve a sentença de primeira instância. Os autos permanecem em segredo de justiça. A defesa segue certa da inocência e recorrerá, confiante de que a verdade será restabelecida, a tempo e modo, pelo Poder Judiciário”, declarou em nota.
Leandro Lehart se manifestou na noite desta quarta em seu perfil do Instagram e afirmou que teve “uma vitória muito importante no julgamento há algumas semanas atrás. O juiz-relator, que estudou o processo de maneira detalhada e profunda, me inocentou das acusações infundadas que venho sofrendo. É um voto extremamente corajoso e simbólico”. Disse também que “confia na Justiça” de seu país e na “continuidade da restauração da verdade que já começou com o voto do relator”.
Rita de Cássia Corrêa, a vítima de 40 anos, aceitou contar ao Fantástico os detalhes do crime. Ela falou que começou a se aproximar do músico em 2017. Contudo, em 2019, passou por uma situação violenta e degradante, e não conseguiu se recuperar do trauma até hoje. “Eu troquei uma mensagem elogiando o trabalho dele. Por inbox numa rede social, ele acabou me respondendo. Ele vendo ali que eu tocava piano e trabalhei com música, me convidou para que eu fosse até a residência dele para que eu pudesse conhecer o estúdio e tocar piano”, afirma ela.
A localização da casa é em uma região nobre da zona norte de São Paulo. De acordo com Rita, aconteceram outros encontros entre eles. Em cinco deles, ocorreram relações sexuais. “Sempre muito educado, muito gentil, muito cortês”, afirmou ela.
“Ele me convidou para subir para o quarto dele que ficava no andar de cima da casa. Eu consenti e subi. Ele parou e perguntou: ‘vamos ao banheiro para terminarmos lá? Porque de lá já poderíamos tomar um banho’. Eu não vi maldade nisso. Em sair ali do quarto e terminar ali no banheiro a relação sexual”.
Ela disse que Leandro foi agressivo no banheiro, a imobilizou e cometeu um ato de violência. “Na minha boca. Eu já comecei a me debater, e pedindo para ele parar. E tentando tirá-lo de cima de mim, mas eu não conseguia. Ele ainda se masturbou até chegar ao orgasmo”, relembrou a vítima.
Ela conta que Leandro ainda a deixou um bom tempo trancada no banheiro. De acordo com a vítima, Leandro chamou um motorista de aplicativo depois dos abusos e a deixou sair do local. “Já fui direto para o banheiro. Já ali no chão mesmo, me despenquei a chorar e fiquei muito tempo ali tentando me higienizar, tentando tirar todo aquele cheiro horrível, aquele gosto, escovando meus dentes. Ali embaixo do chuveiro”, afirmou Rita.
Foi então que a Rita desandou. Ela convive com graves problemas emocionais, perdeu o emprego de controladora de acesso no metrô de São Paulo e até tentou tirar a própria vida. Leandro Lehart nega as acusações. Em depoimento ao juiz, ele declarou que as mensagens em que confessa o abuso não apresentam a realidade.