Nesses primeiros dias aqui, publicando as minhas cartas, falando sobre a minha fé, mas também sobre diversidade, senti que precisava falar com você e da nossa relação. Afinal, há algo profundamente espiritual em sua arte, que vai além das melodias e letras de suas canções. Ao longo dos anos, sua música me ensinou lições valiosas sobre fé, sabedoria e, especialmente, sobre tolerância – religiosa, inclusive. Em você, vejo uma mulher que, mesmo não sendo uma figura religiosa no sentido tradicional, incorpora uma espiritualidade que nos desafia a olhar além das fronteiras impostas pelas crenças e dogmas.
Em você, a fé se manifesta na conexão com a natureza, com o som, com o silêncio, e em você fé vira arte, e arte vira fé. Suas performances carregam uma devoção que transcende o palco. É um convite a enxergar a espiritualidade como algo presente em todos os momentos, desde o mais simples até o mais sublime. Você nunca se limitou a uma religião específica, mas sempre demonstrou respeito por todas, ecoando em seus shows e entrevistas uma abertura para as diferentes formas de expressão de fé.
Aprendi o que significa viver uma fé aberta – que acolhe o diverso. Isso me ensinou que podemos encontrar beleza na diversidade e que a fé pode ser um caminho que não exclui, mas inclui. Sua visão só reforçou o sentido dos questionamentos que tenho, desde muito jovem, sobre as barreiras e preconceitos de muitas pessoas em relação à diversidade de crenças.
Você também é o exemplo de que a espiritualidade não precisa estar enclausurada em templos, mas pode se expressar na poesia, na música, na dança, na liberdade. Sua voz carrega as dores e as alegrias de quem vê o mundo com olhos de reverência e gratidão. Ao ouvir seus álbuns, vejo como você transforma a vida cotidiana em uma oração silenciosa, uma meditação constante sobre a beleza e os conflitos da existência. Sua arte me fez perceber que a sabedoria não está apenas nos textos sagrados, mas em tudo o que nos rodeia, se soubermos olhar com o coração aberto.
Bethânia, você me mostrou que a fé é, em sua essência, uma busca por conexão – com o sagrado, com o outro e consigo mesmo. E a tolerância religiosa é o reconhecimento de que essa busca pode ter muitas formas, todas elas válidas. Ao escutar sua voz suave recitando “Oração ao Tempo” ou cantando hinos de louvor, entendi que a espiritualidade é uma força que une.
Com você, aprendi que o respeito pelas diferentes religiões não é só um ato de amor, mas também de sabedoria, pois nos permite enxergar que todos estamos buscando o mesmo: um sentido, uma paz, uma verdade que nos guie.
É viver a fé com profundidade, mas sem rigidez; buscar sabedoria em todos os lugares, não apenas nas instituições religiosas; e praticar a tolerância, entendendo que cada pessoa tem sua própria forma de se conectar com o divino.
Caetano deu a mensagem, e você deu a voz: “Quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo”.
Um beijo.
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