Daniel Cravinhos foi condenado a 39 anos de prisão pela morte de Manfred von Richthofen e Marísia von Richthofen, em 2002. Ele quer se reaproximar de Andreas von Richthofen, um dos filhos das vítimas e irmão de Suzane Magnani, ex-Richthofen. Ela também sentenciada por matar os próprios pais. Além dos dois, Cristian Cravinhos, irmão de Daniel, é o terceiro responsável pelo crime. Atualmente, Andreas vive isolado em um sítio em São Roque, no interior de São Paulo.
Em entrevista a Ullisses Campbell, do jornal O Globo, Daniel Cravinhos declarou que sempre quis procurar Andreas, já que os dois eram amigos antes do assassinato. Entretanto, ele ainda disse ter receio de que o ex-cunhado se sentisse ameaçado. Antes das mortes, Cravinhos e Suzane namoravam.
“No passado, antes do julgamento, Suzane tentou encontrá-lo, e ele foi até a delegacia registrar um boletim de ocorrência contra ela. Tenho esse medo”, desabafou ele. Daniel Cravinhos está cumprindo pena em regime aberto desde 2017, só que sua condenação vá até 2041.
A família do condenado tem uma chácara próxima ao local em que Andreas está morando. Inclusive, um amigo em comum já tentou intermediar uma conversa entre os dois. O irmão de Suzane teria ficado abalado só de ouvir Daniel no viva-voz. “Gostaria de conversar contigo e expressar meus sentimentos, mas compreenderei se preferires não olhar na minha cara”, escreveu Cravinhos em uma carta para ao ex-amigo, à qual a coluna de Ullisses Campbell teve acesso.
Andreas tentou uma reaproximação com Suzane, procurada por mensagens de WhatsApp no período em que morava em Angatuba, em São Paulo, e estava casada com o marceneiro Rogério Olberg em 2017. Ele chegou a se arrumar para um jantar com a irmã, mas, quando já passava de carro pela rodovia Raposo Tavares, decidiu voltar para a capital paulista.
Depois, o filho de Marísia von Richthofen foi visto correndo desorientado pelas ruas do bairro Chácara Monte Alegre, na Zona Sul de São Paulo. Ele foi encontrado por policiais após pular o muro de uma casa, sendo levado para uma clínica de tratamento para dependentes químicos.
Confira a carta de Daniel Cravinhos na íntegra:
“Querido Andreas,
Após sete anos de reflexão, finalmente encontro coragem para escrever a você. Sinto-me apreensivo com a sua possível reação ao ler essa carta. Recentemente, tomei conhecimento de notícias suas por meio de amigos em comum e pela imprensa, o que me levou a tomar a decisão de pôr para fora o que estou sentindo.
Minha mente está em turbilhão, pois meu desejo mais profundo é ter o seu perdão. As palavras mal conseguem expressar a intensidade de minha angústia e remorso. Minhas mãos tremem enquanto escrevo, e cada linha é uma batalha contra os fantasmas do passado.
Há duas décadas, desde aquele fatídico dia, carrego o peso do arrependimento e da culpa, ciente de que minhas ações trouxeram tamanha tragédia para nossas vidas. Desde sempre penso em você, a maior vítima de tudo o que aconteceu. Hoje, ao praticar motovelocidade, a imagem do seu rosto vem à minha mente. Como seria bom ter você ao meu lado, correndo em uma moto. Lembra do mobilete que construímos juntos?
Somos vizinhos em São Roque. Meu sítio fica a três quilômetros do seu. Sinto vontade de tocar a sua campainha, mas temo sua reação. Morro de medo que você se sinta ameaçado com a minha presença. Além disso, sei que a sociedade me vê unicamente como o assassino de seu pai. E você? Como você me enxerga além disso?
Saí da prisão em 2017 após perder 17 anos de minha liberdade. Mas você perdeu muito mais do que eu. Desejo compreender seu luto e fazer parte dele. Lembro do dia da reprodução simulada feita na sua casa duas semanas após o crime, quando você abraçou o Cristian e me olhou emocionado. Quando íamos nos abraçar, os policiais não deixaram. Entendi o seu gesto de carinho como um perdão. Contudo, você era apenas um adolescente. Hoje, você é um homem adulto. Gostaria de conversar contigo e expressar meus sentimentos.
Desde que saí da prisão, reconstruí minha vida, assim como Suzane, sua irmã. Aos trancos e barrancos, o Cristian também está tentando recomeçar. No entanto, a culpa continua a me perturbar. Parte de minha família me rejeita, e sinto que um dedo acusador aponta para mim constantemente, me lembrando do que fiz. Essa culpa não desaparecerá com a sentença que me condenou a 39 anos. Seguirá comigo até o fim dos meus dias.
Espero, do fundo de minha alma, que você encontre no coração a compaixão para me perdoar. Sei que minhas palavras podem parecer insuficientes diante da magnitude do que aconteceu, mas é com toda a sinceridade e humildade que peço por tua misericórdia. Estou disposto a enfrentar as consequências de meus atos e a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o enorme dano que lhe causei. Se você permitir, gostaria de ter a oportunidade de falar pessoalmente, olhos nos olhos, e abrir meu coração.
Mas, se você preferir manter distância, respeitarei. Apenas desejo saber o tamanho do abismo emocional que nos separa para saber se é possível atravessá-lo. Hoje, serias capaz de me dar o abraço que não aconteceu 22 anos atrás?
Daniel Cravinhos”.