O delegado do caso Jéssica Canedo disse que está claro no inquérito que os comentários ofensivos contra a jovem nas redes sociais influenciaram em sua decisão de tirar a própria vida.

Jéssica foi vítima de uma fake news que se baseava em prints falsos de uma conversa dela com o humorista e youtuber Whindersson Nunes, que indicava que os dois teriam uma relação. Ambos desmentiram o caso. Mesmo assim, alguns dias antes de sua morte, Jéssica publicou em seu perfil nas redes pedindo para pararem com os ataques que ela vinha recebendo.

O delegado Felipe Oliveira, da Polícia Civil de Araguari, afirmou que os autores de publicações ofensivas contra Jéssica também podem ser investigados nas próximas etapas do processo. Ele explica que, dependendo do teor dos comentários, a polícia pode pedir a quebra de sigilo dos perfis para identificar os responsáveis pelos ataques.

“Se o comentário for ofensivo à honra, seria um crime contra a honra de ação penal privada. Agora, se for um comentário que realmente induziu ou diretamente instigou a Jéssica a cometer o suicídio, aí sim, responderia pelo crime do artigo 122 do Código Penal, que é o objeto da nossa investigação”, explicou.

O artigo citado pelo delegado determina que configura crime “induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio material para que o faça”, com pena de reclusão de um a três anos.

“Agora, o que precisamos entender é se houve diretamente e dolosamente alguma instigação ao suicídio, mas que houve um impacto na vida dela, que já vinha debilitada, passando por tratamento psicológico, sem dúvida, houve”, acrescentou.

Sobre as páginas que divulgaram a notícia

O delegado disse que as páginas que divulgaram a notícia falsa, como Garoto do Blog, Alfinetei e Choquei não são investigadas no inquérito atual, que foca nas circunstâncias da morte.

“Houve uma conduta imprudente dessas páginas, mas o crime que nós estamos investigando, que é a possível instigação ao suicídio, só é punido a título de dolo. E me parece que não foi isso que aconteceu. As páginas foram imprudentes por divulgar uma notícia sem verificar a veracidade, mas isso por si só não configuraria o crime de instigação ao suicídio”, explicou o delegado.

Segundo ele, as páginas podem responder na Justiça caso a família de Jéssica decida entrar com uma ação penal na esfera privada, por crime contra a honra da estudante.